Quem nunca ouviu aquela frase “Minha avó foi pega a
laço”? Pois é, infelizmente poderia ser apenas conto da carochinha, mas não é.
Segundo relatório da ONU, divulgado em 2010, uma em cada três índias é
estuprada durante a vida. Isso deixa claro que as mulheres indígenas são mais
vulneráveis a violência do que as demais. Numa sociedade patriarcal, que já
coloca as mulheres em situação de desigualdade, o que dizer das mulheres
indígenas que historicamente foram violentadas e massacradas pelos invasores?
Que proteção essas mulheres possuem? Os dados são alarmantes e o que parece uma
simples “piada”. É a infeliz realidade, essas mulheres foram realmente cassadas
como animais, trocadas, vendidas e utilizadas como meros objetos.As mulheres indígenas sempre estiveram em posição de
vulnerabilidade tanto á época da colonização quanto hoje nos desafios
enfrentados pelo modelo de desenvolvimento econômico imposto no Brasil. São
elas que sofrem de forma mais contundente os impactos provocados sobre o meio
ambiente, a fome de seus filhos, a desnutrição e a falta de perspectivas. As
mulheres indígenas são vítimas de graves violações de direito e são
multiplamente ameaçadas pela discriminação de sexo, raça, etnia e classe
social.Mas estas mesmas mulheres em posição de vulnerabilidade
também são as mesmas que entram nas batalhas contra os posseiros que enfrentam
os conflitos e massacres sofridos pelos povos indígenas. E muitas vezes os
agressores usam o estupro como arma de “desmoralização” desses povos. Além
disso, também sofrem com a perda dos filhos e maridos perseguidos por
posseiros, etc. É expressiva – embora nem sempre receba a devida visibilidade –
a participação das mulheres indígenas nos movimentos e lutas pelo direito a
terra e por isso são também frequentemente alvo de ataques.Não bastassem as violações de direito que são frutos
das intervenções da sociedade sobre o modo de vida dessas populações, também
precisamos refletir sobre a violência sofrida pelas mulheres indígenas no seio
de suas próprias comunidades.As
indígenas reconhecem e denunciam inúmeras práticas discriminatórias que sofrem:
casamentos forçados, violência doméstica, estupros, limitações de acesso à
terra, em consequência do patriarcalismo presente em suas comunidades.Em se
tratando de cultura o assunto se torna mais tenso e delicado, devido ao enfoque
específico e multicultural que precisa ser dado, é necessário ouvir o que as
organizações de mulheres indígenas estão reivindicando. Segundo relato de Olinda Muniz (Clairê Pataxó
Hã-hã-hãe). “Para as
mulheres indígenas os desafios surgem muito cedo, pois com o casamento a
comunidade espera que sejam boas esposas, cuidando da casa e dos filhos. Porem,
se uma mulher quer seguir um rumo diferente na sua vida, tem que enfrentar
alguns preconceitos, pois a comunidade questiona porque uma mulher casada
procura um modo diferente pra sua vida. Atualmente essa perspectiva vem
mudando, mas a comunidade ainda tem aquele pensamento de que os homens devem
sustentar a família. Assim o papel da mulher fica basicamente voltado para a
família, dando apoio emocional, afetivo e moral. Porém, a cada dia que passa,
as mulheres estão conquistando espaço dentro da aldeia e devido a novas
posições buscando ter formação acadêmica, melhorando cada vez mais sua capacidade.
Hoje nas aldeias o numero de mulheres que estão buscando uma educação escolar
melhor é maior que o dos homens. Hoje nesse nosso dia eu quero dar parabéns a
todas nós mulheres principalmente nós mulheres indígenas, pois estamos buscando
o que queremos para melhorar nossas vidas. Sei como é difícil para nós
seguirmos caminhos que muitas vezes nos afastam um pouco dos nossos filhos, de
nossa família, mas isso faz parte de assumir mais responsabilidades, e
lembremos que quando conquistamos mais espaço passamos a ser mais vitoriosas
por conseguirmos conquistas que melhoram a vida de nossa família e de toda a
nossa comunidade.”.Entretanto de uma forma geral não existem políticas públicas
ou o Estado brasileiro não tem se mostrado interessado de desenvolver
estratégias específicas para o enfrentamento da violência contra mulheres
indígenas, as ações são pulverizadas e não há nenhum programa oficial
especificamente destinado a esse público. Dessa falta de políticas específicas
e multiculturais surge uma questão “as nossas leis atendem as necessidades
reais dessas mulheres?”. A Lei Maria da Penha já foi discutida em algumas ocasiões
e encontros pelos movimentos de mulheres indígenas e sempre é alvo de muitas
dúvidas e questionamentos. Desse modo, o grande desafio é pensar em uma
compatibilização entre o direito do Estado e os diversos direitos indígenas,
considerando suas especificidades na busca de uma democracia intercultural.
Este texto tem como objetivo lembrar que essas mulheres existem e sofrem de
forma ainda mais impactante as violações de direitos, que estão se organizando
cada vez mais no sentido de lutar pelos seus direitos e que suas pautas
precisam sair da invisibilidade. Acredito que a diversidade, a pluralidade, e
interculturalidade sejam premissas para pensar políticas de igualdade de gênero
e que esta seja uma pauta fundamental a ser trabalhada pelos movimentos feministas
e humanitários. Fonte:http://webradiobrasilindigena.wordpress.com/mulheres-indigenas-forca-de-nossas-aldeias/http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/outras-publicacoes/LIVRO%20MULHERES%20INDIGENAS1.pdf